“A tragédia da guerra do Vietnã do Sul, com todas as suas imensas complicações para os Estados Unidos, a Ásia e o resto do mundo, a princípio parece nada ter a ver com a Igreja Católica. Isto é incorreto. Visto como a tragédia do Vietnã tem sua origem na influência religiosa e ideológica exercida pela Igreja Católica nos assuntos do país onde a guerra começou.
Não estamos tratando dos direitos ou erros da guerra vietnamita, mas apenas do papel importante que a religião, em particular a Igreja Católica, desempenhou na concepção da mesma. A tragédia vietnamita foi precipitada por um trio zeloso formado pelo Presidente católico, um Chefe de polícia católico e um Arcebispo católico. Todos três estavam determinados a impor a religião e principalmente o poder da Igreja Católica sobre uma cultura não cristã.
Como isso aconteceu, particularmente, tendo em vista o fato de que o Vietnã do Sul era uma terra da Ásia budista? Aqui estão os olhos perscrutadores desses eventos que imediatamente precederam a eclosão da guerra entre o Vietnã e os Estados Unidos.
Certo dia de junho de 1963, um monge budista de 73 anos chamado Thich Quang Duc parou numa movimentada rua de Saigon capital do Vietnã do Sul e depois de ter ensopado o corpo de gasolina por um confrade sentou-se, cruzou as pernas e logo em seguida, tendo acendido calmamente um fósforo, queimou-se até à morte.
Antes disso, ele havia escrito uma mensagem ao Presidente Diem que dizia: “Reforce uma política de igualdade religiosa”.
O Presidente Diem, um católico devoto, deu-lhe uma pronta resposta. Proclamou lei marcial na cidade, selou a maior parte dos pagodes, ordenou a força da polícia secreta que prendesse os líderes budistas, mobilizou suas tropas para prender qualquer monge budista ou ajuntamento budista que se atrevesse a protestar contra a sua progressiva discriminação religiosa.
A auto imolação de Thich Quang Duc foi o ponto culminante de uma crescente, virulenta e discriminatória campanha contra o Budismo pelo Premier Católico Romano, o Presidente Ngo Dinh Diem, do Vietnã do Sul. O Presidente Diem esse tempo havia dirigido o país durante cerca de 9 anos, auxiliado por seus dois irmãos, Ngo Dinh Nhu, Chefe da polícia secreta e Ngo Dinh Thuc, Arcebispo de Hue. O trio tinha estado avançando durante anos em direção a uma verdadeira perseguição religiosa contra a vasta maioria da população de 15 milhões, da qual apenas 1,5 milhão eram católicos.
A centelha da revolta budista fora acesa apenas alguns dias antes em Hue, antiga capital vietnamita, agora sede do Arcebispo, o qual reinava, governava e dominava os Católicos e não Católicos do mesmo modo, em seu papel de guia espiritual de seus dois irmãos, o presidente e o chefe da polícia secreta. Numa celebração em honra do Arcebispo, o contingente católico de Hue hasteou a bandeira do Vaticano, sem qualquer objeção budista. Porém, quando três dias depois todo o país celebrava os 2507 anos do nascimento de Buda e os budistas hastearam a sua bandeira religiosa, o Arcebispo, através das autoridades, proibiu-os de fazerem isto. Isto deve-se lembrar, num país com oitenta por cento da população budista praticante. Os budistas organizaram uma demonstração pacífica contra a proibição. Em resposta, o governo enviou tropas e carros armados e abriu fogo contra os demonstradores, matando nove budistas.
O massacre de Hue repercutiu em todo Vietnã. Delegações budistas em Saigon exigiram a remoção das restrições sobre sua religião e das leis discriminatórias impostas contra eles. O governo prendeu muitos desses demonstradores.
Entrementes, em Hue, quando outra demonstração de Budistas desfilou pela cidade, tropas foram usadas para dispersar os participantes, usando bombas de gás lacrimogêneo. Resultado: sessenta e sete pessoas foram levadas ao hospital com queimaduras químicas.
Os Estados Unidos protestaram. O Presidente Diem pareceu concordar, mas as discriminações contra os budistas prosseguiram sem impedimento. As detenções de monges budistas se multiplicaram. Pagodes eram declarados ilegais, fechados e às vezes atacados. Os soldados católicos lutavam com os soldados budistas dentro do exército nacional, engajados numa guerra de vida ou morte contra o regime comunista do Norte. A guerra que era sustentada pelas armas americanas e por 16.000 “conselheiros” americanos, foi prejudicada pela rápida deterioração em conflito religioso.”…
Leia mais sobre o assunto aqui
10/05/2009 at 15:48
Muito bom o texto, parte de O HOLOCAUSTO DO VATICANO, de Avro Manhattan.
Denuncia o Catolicismo de Estado no Vietnã e na Croácia, aberração gêmea do Ateísmo de Estado da ex-União Soviética.
Ngo Dinh Diem, Ante Pavelic e Josef Stalin são farinha do mesmo saco!
10/05/2009 at 23:09
ateismo de estado é clichê religioso!! Não levo a sério essa história!
Marcelo… você descende de armênios?
10/05/2009 at 23:17
Não entendi … por que Ateísmo de Estado é clichê religioso?
O regime comunista soviético exerceu o Ateísmo de Estado. Perseguiu, torturou e matou milhares de cristãos ortodoxos.
Levou ao extremo da violência de Estado a visão marxista de que “a religião é o ópio do povo”.
Não há nada de clichê nisto.
Somos constantemente bombardeados com a experiência soviética como argumento para combater o ateísmo.
Não, não sou descendente de armênios. E você, é descendente de comunistas? 🙂
11/05/2009 at 0:08
pensei que você descendente por causa de seu sobrenome… terminação “yan”…
Não acredito nessa história de que a URSS perseguiu em nome do ateismo. Isso é historinha fabricada pela igreja. Esta falácia é muito usada pra nos fazer esquecer da cumplicidade clerical com o czarismo. Inclusive alguns clérigos russo foram verdadeiros “Richelieu” e “Mazarin”….
Mas é velha lógica… a igreja é sempre a coitada e perseguida… e nunca a vilã…
11/05/2009 at 0:03
Esse papo de ateísmo imposto também não me convence, o que um ditador pode tirar do um crente é no máximo a sua liberdade de se reunir e prestar culto, no entanto não há calibre que mate uma ideia, nem dá para entrar na cabeça das pessoas e retirar a noção de deus lá de dentro à força, um monte de servos e camponeses russos não deixou de acreditar na religião tão enraizada na sua vida como se a revolução tivesse feito mágica. “Shazan” agora vocês todos são ateus???
Isso não acontece. Além disso a religião não deixou de existir dentro da URSS
11/05/2009 at 1:51
Vocês não entenderam o que eu escrevi …
A ex-União Soviética não perseguiu em “nome” do ateísmo. Eu não escrevi isto. A ideologia do Estado Soviético era o marxismo que, resgatado por Lenin, ficou conhecida como marxismo-leninismo. A ideologia do Estado Soviético NUNCA foi o ateísmo.
O Ateísmo de Estado foi um DESDOBRAMENTO ideológico do marxismo-leninismo que, como eu disse, levou a leitura de Marx sobre a religião – traduzida na famosa frase “a religião é o ópio do povo” – ao extremo da violência.
É claro que a Igreja era aliada ao poder temporal, ao czarismo. Exatamente POR ISSO ela foi considerada o “ópio do povo”, porque era mais um instrumento de alienação da classe trabalhadora.
E nem o próprio Stalin, creio eu, acreditava que o ateísmo poderia ser IMPOSTO, à força, num ato de mágica. O Ateísmo de Estado, mais do que persuadir a favor do ateísmo, REPRIMIA toda manifestação religiosa, pelos motivos que já citei.
Quanto à ICAR, não há mais o que falar. Sempre foi PODRE.
O que eu critiquei no primeiro post, e continuo a criticar, é a VIOLÊNCIA do Estado, seja ele “ateu” ou “católico”.
Por isso é que sempre faço uma distinção entre ESTADO LAICO e Ateísmo de Estado, justamente para desfazer a falácia que os adversários usam contra os ateus, quando citam a União Soviética como expressão SUPREMA e HISTÓRICA do ateísmo.
Expliquei? 🙂
11/05/2009 at 2:16
a URSS reprimiu os religiosos que conspiravam contra ela… e não por serem religiosos… e quem + perseguiu religiosos foram regimes religiosos…
11/05/2009 at 2:32
Sim , eu entendi, ninguém está aqui a fazer apologia a violência, pancadaria e aperto de guelas, mas apesar de toda a insanidade que se seguiu na revolução russa eu entendo Stalin, assim como você também entendeu, problema não era a religião em si, sim as estruturas religiosas que conspiravam contra o regime,Stalin simplesmente se rebelou contra as forças mais poderosas da época, monarquias, instituições religiosas cujo o fito sempre foi escravizar e ajudar outros tiranos a escravizar pessoas e o capitalismo. Por conta dissoStalin me parecia acima de tudo “apavorado’ , pois afinal tinha mesmo inimigo por todos os lados, e acabou louco por conta desse pavor. Nem todos os religiosos foram perseguidos, e não foi a fé em si a perseguida, o que se perseguiu mesmo foi a religião enquanto instituição, e infelizmente, naquela época, realmente ou um lado ou o outro pereceriam, não havia chances de “diálogos” e moderações, foi uma cáca , mas realmente não vejo nenhuma outra forma como a coisa pudesse ter se desenrolado naquele tempo, as próprias instuituições religiosas empurravam a situação para esse extremo.
Quando aos crentes do sobrenatural que usam esse exemplo para criticar o ateísmo, creio que eles mesmos sabem que estão apelando a um argumento sem lógica, na verdade só querem sujar a imagem alheia, eles devem saber de seus próprios podres, do quanto eles levaram e levam os que não partilham de suas fés aos extremos, e que se eles não querem dar liberdade, essa será conquistada pelos meios necessários.
11/05/2009 at 2:34
Tenho um entendimento diferente.
A União Soviética fez as duas coisas.
Reprimiu a “religião em si”, por entender que ela é um instrumento de alienação e perseguiu os “religiosos” que se opunham ao regime.
Mas este entendimento de quem se opõe ao regime vira um balaio de gato, e muitos inocentes são sacrificados.
Aconteceu na Alemanha, no Vietnam, em Cuba … Muito parecido com a inquisição católica.
Se um vizinho dedurasse o outro como anticomunista – mesmo que não fosse – muitas vezes bastava para uma prisão arbitrária. Ser religoso, então, já era ter um pé na Sibéria.
De qualquer forma, mesmo que os cristãos ortodoxos fossem RADICALMENTE contra o regime comunista, isto NÃO JUSTIFICA a matança patrocinada pelo Estado.
Também não vem ao caso quem perseguiu mais, se foram regimes “ateus” ou “religiosos”.
Acho que nós, como Humanistas Seculares, defensores do Estado Laico e Democrático, temos que repudiar qualquer tipo de discriminação, perseguição, tortura e assassinato.
É CRIME HEDIONDO, seja motivado pela crença, não crença, opção sexual, cor, raça, time de futebol, cerveja preferida, loiras ou morenas, etc etc etc
Saudações ateístas! 🙂
11/05/2009 at 2:40
Edu, também penso por aí.
Não dá pra reinventar a história. O momento era aquele e pronto. Só podemos analisar o que foi feito e não o que deveria ter sido feito.
Quanto ao argumento dos crentes, claro que a maioria sabe que é uma falácia, mas acontece que … cola.
Aí já viu, né? Quem tem que descascar o abacaxi somos nós 🙂
Saudações ateístas!
11/05/2009 at 2:45
a historia da religiao opio do povo foi so 1 critica de Marx… ele não queria incitar o odio moprtal à religiao e seus adeptos.
11/05/2009 at 2:44
“Aconteceu na Alemanha, no Vietnam, em Cuba … Muito parecido com a inquisição católica. ”
Alemanha?? você se refere ao nazismo??
Vietnam?? realmente!! o Ngo DInh Diem mandou chumbar budistas que não aceitavam seus ditames.
Cuba?? Que eu saiba, as igrejas conspiraram contra a revolução.
Na Am.Latina o maior choque do estado contra a igreja foi na época do México de Plutarco.
11/05/2009 at 2:45
Repudio-as hoje, mas não vou tapar o sol com a peneira e fingir que dava para ser diferente em outras épocas nem vou dizer que a violência é sempreinjustificável, quando disse que não reprimiu a religião em si estava me referindo às perseguições mais violentas mesmo, se o sujeito ficasse dentro da casa dele juntando dois pedaços de pau para fazer uma cruz e rezar ninguém ia saber muito menos o cobrir de bolachas, mas a partir do instante em que o indivíduo parte par agremiações, se junta em grupos e escuta e acata o que olíder religioso lhe diz contra o Estado a coisa muda totalmente de figura, até hoje em situações de exceção as coisas continuam iguais, basta dar uma olhada nas regras quando reuniões de pessoas durante o estado de sítio por exemplo(não se manda matar ninguém, mas a liberdade de reunião é restringida rsrsrsrs)
11/05/2009 at 2:51
Putz fui mal -educado, o Marcelo Druyan sempre nos cumprimenta e eu não respondi, foi mal.
Primeiro boa noite e saudações ateístas para você também.
Abraço
11/05/2009 at 2:57
Edu, é o que te falei. Não dá pra reinventar a história. Aconteceu, ponto final.
Mas nem por isto vou deixar de condenar a violência de Stalin ou qualquer violência na história, seja ela de direita ou de esquerda; religiosa ou atéia; nacionalista, étnica, o escambau 🙂
A história serve de lição para que a gente não cometa os erros do passado.
Eu sou radical em minhas críticas à religião e aos religosos. Cristopher Ritchens pra mim é fichinha 🙂 , mas eu nunca levaria isso ao extremo de um ato de violência.
Além do mais, eu prefiro afirmar o ateísmo do que combater a religião. Claro que, no limite, uma coisa pode levar à outra.
Mas podendo evitar, eu prefiro deixar os crentes de lado e falar sobre o ateísmo, ceticismo e humanismo secular. É mais produtivo 🙂
SA!
11/05/2009 at 2:59
To adorando a discussão de vcs. Dá pra aprender muita coisa =D
11/05/2009 at 3:02
Ô Edu, falar em saudação, acabei de bolar uma aqui!
S.A.R.A.V.A.! (Saravá!)
Saudações Ateístas Reservadas Aos Verdadeiros Ateus!
Putz! Que horrível! 😦
11/05/2009 at 3:04
ahuahuahauuahauhahauh, eu ri =)
11/05/2009 at 3:05
Ô Catupiry, acerta o relógio do blog!
Toda hora eu tomo um susto, achando que já é de madrugada.
Amanhã tenho que ralar bem cedo! 🙂
11/05/2009 at 0:09
bem lembrado… arrumei.. ve se ta certo agora =)
11/05/2009 at 0:10
entre no msn
11/05/2009 at 0:14
se for pra mim… entro amanhã, to indo dormir.
Saudações ateistas.
11/05/2009 at 3:07
Claro, violência, pancadaria, apertos de guela, dedos nos olhos, etc não são modelos de comportamento para ninguém, além do mais perseguir religiões normalmente só as torna mais fortes, elas crescem com base no sangue de seus mártires.
Vivemos uma outra época, não queremos forçar ninguém a partilhar nossa descrença, o jogo alias é inverso, querem nos forçar a partilhar as crenças deles e obrigar o estado a agir sob a agenda deles, mas nos argumentos damos conta do recado em defesa do Estado Laico, o caminho pela frente ainda é longo, as estratégias de ambos os lados mudam, mas a vitória é certa.
abraço
11/05/2009 at 0:11
exatamente, a luta é dura e necessária! E a vitória é certa =D
11/05/2009 at 0:11
Catupiry, relógio certim!
11/05/2009 at 0:29
Stef, passou batido …
Vc escreveu: “a historia da religiao opio do povo foi so 1 critica de Marx… ele não queria incitar o odio moprtal à religiao e seus adeptos”
Eu concordo plenamente. Marx fez uma análise sociólogica da religião. Ele não era um militante, nunca pegou em armas. Vivia às custas de Engels e ainda teve uma filha com a empregada dele 🙂
Para Marx, a “Comuna de Paris” foi o máximo de revoluçao que conheceu.
Muitos anos após a morte dele, Lenin resgata seus escritos e faz um nova leitura.
Dentro do contexto da opressão czarista e do conchavo com a Igreja; a partir da revolução bolchevique; da resistência ao novo regime; da contra-revolução; da morte de Lenin; da ascensão de Stalin, do “exílio” de Trotsky; etc, a análise de Marx – como eu disse antes – é levada ao extremo da violência.
Stalin acabou de f**** com tudo!
23/05/2009 at 5:00
[…] o Vietnam (Sul) de Diem provou que eles estavam […]
05/01/2010 at 14:55
[…] Mas a igreja foi pilar dos regimes da Croácia, Eslováquia, Áustria, Espanha, Portugal e Vietnã do Sul. E claro… o papa foi […]